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domingo, 19 de julho de 2020

Crítica | Jurassic Park III | Especial de 19 anos do filme


Em muitas discussões sobre Jurassic Park III, o assunto principal é o que o filme poderia ser em vez de o que o ele realmente é. Pela primeira vez longe das mãos de Steven Spielberg, a franquia Jurassic Park tentou evoluir para manter seu espaço na indústria do cinema que, na época, estava interessada em histórias fantásticas como Harry Potter e a Pedra Filosofal, O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001) e Star Wars: Episódio I - A Ameaçada Fantasma (1999).  

A primeira cena do filme de Joe Johnston, que, na época, era conhecido por Jumanji (1995) e mais tarde dirigiria O Lobisomem (2010) e Capitão América: O Primeiro Vingador (2011), já estabelece uma base para como o enredo irá seguir a partir dali.

Ao tentar criar mistério, o ataque de um animal desconhecido ao barco em que os personagens Ben e o adolescente Eric (Trevor Morgan)  estão conectados acaba causando mais confusão e frustração do que  suspense no público. Em momento algum durante os 90 minutos do filme é abordada a causa do acidente, o roteiro parece se “esquecer” de deixar pistas além da vela do parapente e uma câmera encontrada no local em que os personagens caem na ilha, mas que nada acrescentam.

O enredo segue para um breve preparativo antes dos personagens chegarem na ilha. Somos reapresentados a Alan Grant (Sam Neill) e Ellie Sattler (Laura Dern) que, fugindo do óbvio, não são um casal, e sim dois grandes amigos. Ele conta que está pesquisando sobre os velociraptores e que acredita que eles sejam uma das criaturas mais inteligentes a andarem pela Terra.

Apesar das recentes descobertas nos fósseis (e com a ajuda do encontro traumático do paleontólogo com os animais vivos), Grant não ganha atenção de investidores com a sua abordagem científica e é assediado pela mídia com questões sobre Jurassic Park e os incidentes na Isla Nublar. Como resposta, Grant afirma que os seres que vivem nas ilhas Nublar e Sorna não são dinossauros e sim monstros de parque temático – essa afirmação acaba permeando o restante da franquia a partir dali, que muitas vezes trata os dinossauros não como animais, mas sim como monstros ou até “enfeites”.

A proposta do casal milionário e excêntrico Paul (William H. Macy) e Amanda Kirby (Téa Leoni), que deseja sobrevoar a Isla Sorna, o sítio B, se torna irrecusável na situação que Grant se encontra, mesmo após ele afirmar que nada o faria pisar em uma das instalações da InGne de novo – o que mostra que, mesmo que seu destino seja bem intencionado, o dinheiro sempre fala mais alto.
Ao lado de seu assistente, Billy (Alexandro Nivola), Grant embarca com o casal e uma pequena equipe em um avião particular para o suposto tour aéreo pela ilha habitada por dinossauros. Logo descobrimos que, na verdade, o casal está longe de ser milionário e que o verdadeiro motivo de eles estarem ali é para resgar o filho Eric, que está perdido na ilha há 8 semanas.

A verossimilhança falha com o fato dos Kirbys conseguirem convencer uma equipe razoável composta por um piloto de avião e mercenários com armas potentes de ir até a ilha apenas com uma promessa de pagamento. A própria premissa do filme é difícil de acreditar: a vontade dos pais em encontrar o garoto desaparecido é louvável, mas é necessário abusar da suspenção da descrença para engolir que um adolescente sobreviveria por dois meses sozinho em uma ilha com dinossauros.




Diferente dos filmes anteriores, neste, que é consideravelmente mais curto, a ação se inicia mais rápido e, aos 20 minutos, os personagens já é instaurado o caos na ilha após o pouso do avião. Na cena, dois personagens que não tem profundidade nenhuma para além de seus primeiros nomes, já são devorados pelo novo dinossauro antagonista da vez – o Espinossauro, que substituiu o Tiranossauro rex como grande vilão, inclusive no logotipo do filme.

Apesar de eletrizante, o acidente principal deste filme não é a melhor cena de ação e acaba sendo atrapalhado pela utilização muito mecânica e atrapalhada do animatrônico do dinossauro gigante.

A nova espécie aparece sem explicação e persegue os protagonistas por puro sadismo, não diferente dos Velociraptores do primeiro filme. Desta vez, os Raptores possuem um motivo mais plausível para a perseguição e se mostram realmente mais inteligentes, enquanto a inteligência do Espinossauro para armar emboscadas soa forçada e até cômica, como a cena do toque do celular.

A infame batalha do Espinossauro e o T. rex não é apenas no marketing do filme, mas também aparece em tela e é puro entretenimento. Apesar da execução um pouco truncada, trazer um novo dinossauro antagonista foi uma decisão arriscada e corajosa do roteiro. No entanto, a birra dos fãs em relação ao resultado desta disputa levou até que os materiais promocionais do filme fossem alterados: os logotipos mais recentes trazem o T. rex de volta no lugar do Espinossauro.

Apesar de nós sabermos que algumas da mudanças na paisagem da Isla Sorna e na aparência (ou até existência) de alguns dinossauros serem simples escolhas estéticas da nova produção, é triste que o filme precise de explicações externas e que surgiram anos depois para cobrir alguma de suas lacunas e inconsistências com o resto da franquia – como o fato de, supostamente, se passar em uma outra área da ilha, de ter uma terceira variação de espécie de Velociraptores, entre outros.

O filme segue com o núcleo de personagens um pouco menor após o acidente. O elenco de peso, como de costume na franquia, não consegue brilhar por não ter personagens com nuances à altura de seu talento. Grande parte dos personagens não passa por nenhuma grande mudança durante a história – o casal se reconcilia e Billy se sacrifica para compensar um erro, mas, além disso, todos saem da história do mesmo jeito que entraram. Os diálogos parecem estar ali apenas para ligar uma cena de ação à outra.

Apesar disso, o filme traz longas cenas inspiradas de suspense e ação, como o vulto rápido de um Velociraptor fora do centro de pesquisas abandonado que os personagens estão investigando. Inclusive, esta sequência, a do aviário e o ataque no rio se tornaram clássicas. A principal cena com os Velociraptores, apesar de iniciar com um deles enganando Amanda de forma assustadora mas pouco realista, segue com um pedido incrível de ajuda e ataque coordenado. A perseguição no meio da manada de Coritossauros e Parasaurolofos também entregam um bom uso das imagens geradas por computador, sempre um ponto forte da franquia.

No fim das contas, o final do filme é um tanto anticlimático. O encontro com os Velociraptores poderia ter vindo antes do último embate com o Espinossauro, pois, ao menos assim, teríamos uma última grande cena de ação e perigo sem a sensação de coito interrompido.


A trilha sonora é pouco discreta. Não traz grandes temas e aumenta de repente nos momentos de susto, como todo filme de suspense ou terror. Enquanto todos os outros filmes da franquia tiveram trilhas mais marcantes compostas por John Willians, Don Davis entrega o básico e funcional para Jurassic Park III.

O crítico Anthony Quinn, do Independence, jornal britânico, afirmou que o fato do filme não ter discursos ecológicos e ambientais e partir direto para ação era uma qualidade. Discordo. O que diferencia a franquia Jurassic Park das outras são suas mensagens e reflexões da relação dos humanos com a natureza. O grande lema da franquia, afinal, é “a vida encontra um meio”. Sem isso, Jurassic Park não é diferente de outros filmes que utilizam escancaradamente as referências de Tubarão (1975) e Godzilla (1954), mas sem nenhuma substância.

Jurassic Park III diverte e não ofende, mas falta a profundidade que estávamos acostumados a ter nas obras de Michael Crichton (autor original dos livros que deram origem às duas primeiras adaptações de Spielberg). Uma pena, pois se tornou uma oportunidade perdida e colocou a franquia em hibernação por 14 longos anos.

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