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terça-feira, 5 de junho de 2018

Crítica | Jurassic World: Reino Ameaçado


A zona de conforto de Jurassic Park tem nome: Isla Nublar e Isla Sorna. Para a franquia avançar, foi necessário sacrificar estes lugares familiares. Os roteiristas Colin Trevorrow e Derek Conolly entregam Jurassic World: Reino Ameaçado como o filme mais diferente da série até agora. A progressão até o ponto em que a história se encontra agora não soa forçada, e sim, fluída e natural. Eles inovaram e arriscaram com ideias que poderão levar a franquia a um novo patamar.

Dirigido pelo espanhol J.A. Bayona, o filme já inicia em grande estilo com uma das melhores cenas de abertura entre os quatro anteriores. Logo nos primeiros cinco minutos, é possível notar que estamos diante de uma criatura diferente: enquanto o filme anterior, Jurassic World (2015, dirigido por Trevorrow), focou nas maravilhas e deslumbres dos dinossauros, emulando o sentimento das primeiras aparições dos animais no clássico de Steven Spielberg, Reino Ameaçado foca na segunda parte de Jurassic Park, cheio de tensão e suspense. Há momentos assustadores e que você fica com frio na barriga, apreensivo em relação ao que pode acontecer.

Na história, a Isla Nublar está sendo ameaçada por um vulcão prestes a entrar em erupção, o que coloca toda a vida na ilha em risco - somos apresentados a este contexto de forma muito didática, que deve agradar aos fãs que pedem uma cena similar a esta há anos.

Claire Dearing (Bryce Dallas Howard), ex-gerente de operações do parque temático Jurassic World, sente uma parcela de culpa pelos eventos trágicos que acarretaram no fechamento e abandono do parque, há três anos. Deste sentimento, nasce o Grupo de Proteção do Dinossauro, que busca financiamento e apoio popular para convencer o governo americano a salvar os animais deste evento cataclísmico. Trabalhando ao seu lado estão Zia Rodriguez (Daniella Pineda), uma veterinária de dinossauros, e Franklin Webb (Justice Smith), técnico em computação.  

Ela recebe uma  ligação de Eli Mills (Rafe Spall), que gerencia a fortuna de Benjamin Lockwood (James Cromwell), um ex-parceiro de John Hammond, fundador e idealizador do Jurassic Park original. Mills revela que Lockwood planeja resgatar os dinossauros e juntos organizam uma expedição à ilha para resgatar os animais. Claire pede ajuda a Owen Grady (Chris Pratt), que se isolou no norte do país desde que o fim do relacionamento dos dois. Para convencê-lo, ela usa a velociraptor Blue, que foi criada desde filhote por Owen e que corre risco de vida se continuar na ilha. 

O grupo chega então à Isla Nublar e descobre que Mills talvez tenha outros planos para os dinossauros. No fim das contas, os personagens acabam indo parar na propriedade de Lockwood, em que grande parte da ação ocorre e onde se encontra o novo híbrido, Indoraptor – com DNA da Indominus Rex e de velociraptor.

A primeira parte do filme tem um ritmo acelerado, mas apresenta bem os novos personagens. Eli Mills é carismático, mas um tanto descompassado, e seu personagem se mostra um dos vilões mais perversos da série. Benjamin Lockwood parece genuinamente disposto a fazer a coisa certa e corrigir os erros do passado, além de inspirar empatia por sua aparência frágil, apesar de claramente guardar um segredo sombrio. Sua neta, Maisie (Isabella Sermon, em sua estreia no cinema), é curiosa e esperta. Toby Jones, que interpreta Gunnar Eversoll, é ganancioso e Ken Wheatley (Ted Levine), é charmoso, porém desprezível - um Roland Tembo, de O Mundo Perdido, mas muito menos amável.

Bayona descreveu a segunda parte do filme como “claustrofóbica”. Trazer a ação para um ambiente rotineiro – como Jurassic Park fez na cena da cozinha – acrescenta uma camada de terror e suspense, é como se estivéssemos em um pesadelo.

O tom deste filme é mais sério que o de Jurassic World. Em vez de simplesmente nos maravilharmos com essas criaturas, nós também as tememos. É como assistir a um documentário sobre leões: você os acha magníficos, mas tem a noção de que são muito perigosos. A inversão das vítimas – agora os humanos são os “vilões” para os dinossauros – também funciona muito bem. O filme depende do seu apego emocional por esses animais.

A relação de Owen e Blue é melhor explorada e torna mais crível todo o comportamento da velociraptor. Bayona descreve Blue como sendo “o coração do filme”, e ela realmente é, pois o roteiro gira em torno dela e de sua importância. 


Já o “vilão” Indoraptor é competente, mas não rouba a cena como o “primo” Indominus Rex.  Ele funciona como antagonista e estrela algumas das melhores cenas do filme, mas o foco está nos dinossauros “reais”.

Os efeitos visuais estão melhores do que nunca, sejam eles gerados por computador ou animatrônicos. Bayona aposta em planos fechados nos rostos dos dinossauros e não desaponta com a qualidade dos detalhes – há cenas assim com o carnotauro, o stygimoloch, velociraptor, T. rex e até braquiossauro. Aliás, cada dinossauro tem seu momento de destaque e alguns voltam a fazer pequenas aparições durante o filme, o que deve satisfazer os fãs.

O elenco, como sempre na franquia Jurassic Park, é de primeira. Os protagonistas Bryce Dallas Howard e Chris Pratt se entregam e se divertem em seus papéis, enquanto as novas adições como Rafe Spall, James Cromwell e Geraldine Chaplin, que dá vida a Iris, governanta da família Lockwood, dão um show de interpretação nas cenas mais dramáticas. Isabella Sermon, a criança Maisie, é muito competente e se expressa de maneira sincera em todo o seu tempo de tela.

Grande parte da beleza do filme vem do diretor J.A. Bayona e sua equipe – como o diretor de fotografia Oscar Fauna. O longa traz alguns dos quadros mais belos da franquia, desde a sua abertura em uma Isla Nublar durante uma das maiores tempestades já vistas nos filmes, até as cenas na Mansão Lockwood, com o Indoraptor nos arredores da propriedade. Bayona abusa do visual gótico e do jogo de luz e sombra, quase um chiaroscuro. Destaque também para a própria animação do título do filme, que se diferencia de todas as outras até agora.

A ação está melhor do que nunca. Há mais lutas corporais (entre humanos) e os dinossauros não estão para brincadeira. Os herbívoros se mostram perigosos e a T.rex, depois de tanto tempo, finalmente come alguém de novo. A erupção vulcânica é impressionante e garante um senso de urgência, já que a "sombra" do vulcão está a espreita em todas as cenas na ilha.

Entre os pontos negativos do filme, está a falta de peso a um certo fato revelado. A revelação, em si, se conecta a outros pontos cruciais da história e é uma aposta interessante, mas faltou um conflito interno nos personagens para ganhar a importância que poderia (e deveria) ter.

O compositor Michael Giacchino reutiliza temas consagrados no filme anterior, mas surpreende por não apresentar o tema principal da franquia em diversos momentos óbvios que outros compositores julgariam obrigatória a presença. A escala épica da trilha-sonora, com coral, funciona em algumas das cenas, mas soa exagerada em outras. Faltaram temas marcantes, como a famosa “Chasing the Dragons”, de Jurassic World.

Há também cenas que foram criadas exclusivamente para o marketing do filme e serem exibidas em trailers e pôsteres, pois não encaixam tão bem na progressão do filme – os roteiristas poderiam ter achado outras soluções. Contudo, não deixam de serem bonitas de ser ver.

Claire, agora usando botas, não é a líder que poderia ser. Apesar de tomar a dianteira em alguns momentos de ação, ela parece continuar a precisar e ser guiada por Owen. Outra personagem feminina que poderia ter sido apresentada de forma mais convincente é a paleoveterinária Zia, que é uma mulher forte e decidida, mas o roteiro parece querer evidenciar isso por meio de falas prontas, em vez de mostra-la em ação. Esta personagem e seu colega de trabalho, Franklin, apesar de divertidos, não tiveram espaço para se desenvolverem por completo. Franklin, que é bastante covarde durante todo o filme, tem seu momento de coragem, mas não passa disso.


O filme se assemelha muito a O Mundo Perdido: Jurassic Park, tanto em trama quanto em contexto, mas é inspirado o suficiente para não soar como um remake e diverge do filme de 1997 por ir até o fim com suas propostas. Se aquela cena do T. rex em San Diego acontecesse neste ponto da série, ela não soaria tão mal como na época.

Bayona faz várias referências a todos os filmes da franquia – exceto, talvez, Jurassic Park III (2001). A cena de apresentação de Claire faz referência a Jurassic World, e mais para frente, temos referências muito claras à Jurassic Park.

O final deixa um grande gancho para a sequência e nos faz imaginar o que virá a seguir.

Reino Ameaçado dá o maior passo da franquia em direção ao futuro desde que a Isla Sorna, o Sítio B, foi revelada em O Mundo Perdido. As consequências da manipulação genética e do poder da clonagem finalmente são sentidas no mundo real, além das ilhas e dos parques. Os debates morais de Michael Crichton, autor do romance original, que reverberaram tão bem em Jurassic Park, estão de volta – a figura do dr. Ian Malcolm (Jeff Goldblum) dá o tom no início, mas o longa retoma as reflexões no penúltimo e último ato. 

Diferente o suficiente para não cair na mesmice, mas ainda com as características que tornam a franquia o que ela é, Jurassic World: Reino Ameaçado é a sequência ousada que esperamos desde 1993.



Por Bruno Fernando, para Mundo Jurássico BR.

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